Joias Perdidas: Alberoni, que treinou com Messi, dá um 'tempo' na carreira
sexta-feira, março 01, 2013
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juninho chorrocho
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Ex-Vasco, Inter de Milão, Barça e seleção de base, volante diz que levou calote em vários clubes. Desiludido, trabalha em laboratório farmacêutico
Alberoni suspendeu a carreira de jogador para
estudar e trabalhar (Foto: André Durão)
estudar e trabalhar (Foto: André Durão)
A passagem pelo Barcelona
ainda está clara na cabeça de Alberoni. Em 2004, quando calçava as
chuteiras e ia para o campo de treinamento no Camp Nou, ainda alimentava
o sonho de alçar voos mais altos na carreira de jogador de futebol.
Afinal, via ali, a seu lado nos treinamentos pelo time B, um baixinho
argentino que ganhava, pouco a pouco, uma chance entre os profissionais.
No entanto, os treinos com Lionel Messi
viraram apenas história para contar. Desiludido com os calotes que diz
ter levado de empresários, decidiu procurar outro rumo. Sem descartar
uma volta ao futebol, o volante, de 28 anos, que chegou a jogar como
terceiro homem do meio de campo, divide o tempo entre os estudos na
faculdade de administração e o trabalho como representante de
laboratório farmacêutico.
A ida para a Espanha e os treinamentos com Messi duraram apenas um mês.
Hoje, Alberoni demonstra certo arrependimento de ter se precipitado e
saído do clube catalão. Ele contou que, na época, havia sido levado para
Barcelona através de um representante da Nike, após ter brilhado pela
seleção brasileira sub-17 no Sul-Americano e no Mundial de 2001. No
entanto, seu empresário não teria aparecido para assinar contrato, e uma
proposta de US$ 200 mil do Independiente pela compra de seu passe falou
mais alto. E decidiu ir para a Argentina.
- Eu cheguei no dia da apresentação do Eto’o, lembro como se fosse
hoje. Aquela agitação, a primeira entrevista dele e a gente indo
treinar. Eu estava bem na pré-temporada, participei dela toda, estava
jogando... Ia ser uma virada na minha vida. Mas carreira de futebol é
curta. Onde tem oportunidade você vai. E ali eu tinha o contrato todo
direitinho, podia ganhar 200 mil dólares. Não tinha nem o que pensar -
lembrou.
O problema é que, ao chegar ao clube argentino, todas as promessas se
tornaram apenas fantasia. A empresa que intermediara o negócio entre o
Independiente e o pai de Alberoni era, segundo ele, fantasma. O
dinheiro da contratação jamais teria caído em sua conta. O salário, só
teria recebido uma pequena parte. Ao demonstrar desejo de voltar para
casa, diz que chegou a encontrar a fechadura de seu apartamento trocada.
Alberoni contou ainda que teve de fugir e se abrigar em um hotel. E só
depois de muita insistência teria conseguido liberação para retornar ao
Brasil, após a intervenção do presidente do clube. Esse teria sido
apenas um dos muitos calotes que afirma ter levado na carreira.
Desapegado, Alberoni guarda poucas camisas dos clubes por onde passou (Foto: André Durão)
Promessa no Vasco, no Inter de Milão e na seleção brasileira
As pessoas acham que eu estou rico, mas o máximo que eu ganhei de
salário foi R$ 8 mil no Vasco. Ganhei experiência, cultura, mas
dinheiro, não"
Alberoni
A chance de se tornar um jogador de destaque no cenário mundial
apareceu logo cedo na vida de Alberoni. Aos 17 anos, era titular da
seleção brasileira da categoria e uma das maiores promessas ao lado de
Diego, do Santos. Com a camisa do Vasco, sua geração acumulava títulos
nos torneios de base. Naquele time, Morais, Wescley, Coutinho e Anderson
enchiam os dirigentes do clube de expectativa para faturar alto. Assim,
não demorou para ser vendido, logo aos 18 anos, para o Inter de Milão.
A vida na Itália teve períodos de altos e baixos. Por um lado, se
destacava no time B, ao lado do nigeriano Oba Oba Martins e do macedônio
Goran Pandev. Por outro, o frio e a solidão eram inimigos. Sem um
empresário para cuidar da carreira e com a família no Brasil, o jovem
atleta tinha medo do futuro - principalmente de ser emprestado para
times italianos de menor expressão. Reuniu-se com o presidente do Inter
de Milão e acertou sua ida para o Bahia, com a ajuda de um empresário.
Foi o primeiro arrependimento.
- Eu não me arrependo de ter ido para a Itália tão cedo. Eu me
arrependo de ter voltado. Eu era uma promessa no Inter, artilheiro da
equipe, camisa 10 no time B. Se eu não tivesse voltado tão cedo, não
sei, subiria para o profissional, mas provavelmente iria para um time
mediano da Itália emprestado, com um bom salário, ia ser valorizado. Eu
me precipitei em voltar ao Brasil. Eu achei que todo mundo era safado,
mas nem todo mundo é - disse.
Quadro na casa de Alberoni guarda lembranças da carreira como jogador de futebol (Foto: André Durão)
Vida de cigano: cinco países e 14 clubes em dez anos
No time baiano, nem chegou a jogar. Por uma divergência com seu
empresário, o presidente do Bahia impediu os atletas agenciados por ele
de atuarem na equipe. Foi uma passagem de apenas algumas semanas, até
ter a chance de treinar no Barcelona. No time catalão, treinou por um
mês e foi contratado pelo Independiente, da Argentina. Sem receber,
conseguiu voltar ao Brasil e acertou com uma empresa que agenciava
atletas. Nessa época, seus ex-companheiros de Vasco, como Morais e
Anderson, já estavam entre os profissionais do clube.
Enfim, começou a ter chances de jogar, mas os períodos em que ficava
nos clubes era curto. Disputou o campeonato estadual pelo Paraná em 2005
e, ainda durante a competição, foi contratado pelo Avaí. Apesar das
boas atuações no Campeonato Catarinense, começou a perder espaço na
campanha da Série B, até ser negociado com o União de Leiria, de
Portugal. No time português, diz ter voltado a conviver com os calotes.
- Eu nem cheguei a jogar em Portugal. Quando recebi o primeiro salário,
vi que só 40% tinha sido depositado. Os outros 60%, que eram do
contrato de imagem, não caíram. E, lá, o presidente tinha um poder muito
grande, era o que ele falava e acabou. E ele falou que não ia me
negociar, mesmo que eu não quisesse jogar. Foi quando, em 2006, pintou o
interesse do Vasco para atuar entre os profissionais. Eu tive que
chorar na frente do cara, até que ele deixasse eu voltar para o Brasil -
lembrou.
Sem "pendurar as chuteiras", Alberoni faz visita a médicos para vender remédios (Foto: André Durão)
Dali, Alberoni continuou sua vida de peregrinação, sem muito sucesso
nos clubes em que passou. No Vasco, era reserva do grupo que terminou
vice-campeão da Copa do Brasil de 2006. Sem espaço, foi negociado com o
Las Palmas e, meses depois, chegou ao Alavés, ambos da segunda divisão
da Espanha. Em 2007, foi contratado pelo Botafogo, sem ter muitas
oportunidades. Nos anos seguintes, passou por Novo Hamburgo, Duque de
Caxias, Slavia, da Bulgária, até o ASA de Arapiraca, seu último clube,
em 2011.
- Na Bulgária, eu treinava com temperaturas de vinte graus negativos.
Não conseguia entender nada, ler nada. Foram 10 meses. Lá eu aprendi a
dar valor às coisas. O futebol pode ser uma escolha que não dá certo. As
pessoas acham que eu estou rico, mas o máximo que eu ganhei de salário
foi R$ 8 mil, no Vasco. Ganhei experiência, cultura, mas dinheiro não.
Volta aos gramados
Há mais de um ano longe do futebol, sobram histórias para contar. Além
de treinar com Messi, no Barcelona, jogou com Crespo, Batistuta e Materazzi no Inter de Milão. No Independiente, jogou ao lado de Agüero
, com quem fez amizade. "O pai dele era muito coruja, não perdia um
treino, um jogo. Eu ficava espantado com a semelhança dele com o
Romário."
Com estoque de remédios, ele trabalha como representante de laboratório farmacêutico (Foto: André Durão)
A última tentativa de voltar ao futebol foi no fim de 2012. Após
receber um contato do River-PI, o jogador acertou as bases salariais e
assinaria com o clube piauiense, que chegou a anunciar sua contratação.
No entanto, ao disputar um jogo beneficente em dezembro, voltou a
sentir dores no joelho direito, fruto de uma antiga lesão nos
ligamentos, e teve mais um motivo para se manter distante dos gramados.
Assim, preferiu dar continuidade a seu novo trabalho, onde projeta uma
carreira.
- Não encerrei a carreira não, mas minha prioridade hoje é o estudo,
meu novo trabalho. Eu procurei algo que fosse dinâmico, que nem é o
futebol. Eu não ia conseguir ficar dentro de um escritório. Fiz um curso
específico para a profissão e comecei a mandar currículo para as
empresas. Pode-se dizer que o futebol me abriu portas: meu gerente é
vascaíno doente, lembrou do meu nome e me deu essa oportunidade. A
indústria farmacêutica é um mercado muito restrito - disse.
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